Envejecimiento · 10 Maio 2019

A mudança na convivência: a diminuição dos agregados familiares intergeracionais

Discutimos anteriormente como uma das mudanças na forma como vivemos hoje a velhice tem a ver com o desejo de independência e de ficar em casa. Nessa ocasião, apontamos para o desejo de permanecer no ambiente familiar, em oposição à ideia de se mudar para a casa dos filhos. Como vimos também, a opção de viver numa residência é indesejável e a preferência pelo próprio lar é clara e maioritária. Mas com quem é que as pessoas com mais de 65 anos vivem em Espanha? Em casa, sim, mas como é que são essas casas? Já salientámos que a opção de viver com o casal era a predominante e que os lares intergeracionais tinham diminuido consideravelmente. Hoje vamos analisar a evolução dos agregados familiares intergeracionais e a tendência verificada nos últimos anos.

O que é um agregado familiar intergeracional? Se por agregado familiar entendemos (de acordo com a definição do Instituto Nacional de Estatística) o grupo de residentes que vivem na mesma moradia, por agregado familiar intergeracional entendemos os agregados em que várias gerações da mesma família (de sangue e política) vivem juntas. Por exemplo, avós, filhos e netos. Outros parentes poderiam viver (tios, um primo), mas o que nos interessa hoje é falar de coabitação familiar tendo como eixo as pessoas com mais de 65 anos.

Uma casa de uma geração seria uma casa composta por uma pessoa idosa, ou uma pessoa idosa e o seu parceiro. Um lar de duas gerações seria aquele em que convivem os filhos e, no lar de três gerações, os netos também estariam presentes (tomando sempre os idosos como epicentro das relações familiares). Os lares de mais de três gerações, muito escassos atualmente, teriam a presença de um bisneto, por exemplo (a propósito, temos que falar sobre os avós e como eles vivem a chegada dos netos).

A mudança nos padrões de convivência é uma das mais interessantes quando queremos falar sobre as mudanças sociais atuais. Está relacionado, como não poderia deixar de ser, com o envelhecimento e o aumento dos divórcios, mas também marca uma mudança nos padrões de relacionamento e convivência dentro das famílias, o que é sempre uma questão muito controversa. Nós tendemos a idealizar relações familiares no passado (qualquer tempo passado era melhor). Não viver juntos não significa necessariamente uma diminuição no relacionamento e, por vezes, até mesmo, pode significar a sua melhoria. As fricções da convivência podem dificultar as relações pessoais; acontece com o casal (aquele que o poeta Rafael de León disse que encontramos na rua - Que a mãe há só uma e a ti encontrei-te na rua-) mas também com os filhos quando são adultos. E, claro, com os nossos pais, quando já não queremos cumprir as suas regras ou costumes. Há uma tremenda idealização das relações familiares no passado, mas, como discutimos num outro post, às vezes foi a força do hábito (próprio e social) que nos obrigou a manter um tipo de relação que não era necessariamente desejada. Acredito também que o relaxamento nas formas da sociedade de hoje nos permite ter relações familiares e pessoais mais plenas e satisfatórias, uma vez que são escolhidas. Por outro lado, não viver na mesma casa não significa necessariamente viver longe: em Espanha tendemos a ficar perto dos nossos pais e familiares.

Para exemplificar esta mudança nos agregados familiares, podemos referir-nos aos Recenseamentos da População e da Habitação. Como já sabemos, é realizado a cada dez anos, por isso as informações mais recentes referem-se à situação de 2011. O que nos interessa agora é analisar como ocorre uma mudança, e como se reduzem (ou não) os lares intergeracionais. Para isso, contar com três datas (1991, 2001 e 2011) observando a variação percentual é suficiente para ter uma ideia da tendência em Espanha.

Mas primeiro, e a fim de contextualizar as percentagens, vejamos como o número de agregados familiares aumenta durante este tempo, ao mesmo tempo que a população aumenta. Na população em geral (sem fazer distinções por idade) as famílias passam de 11.852.075 em 1991 para 18.083.685 em 2011.

Gráfico 1: Número total de agregados familiares em Espanha. 1991, 2001 y 2011.

Fonte: Elaborado própria partir dos dados dos Recenseamentos da População e Habitação de 1991, 2001 e 2011. Instituto Nacional de Estatística.

Como podemos ver, o número total de famílias aumenta consideravelmente. O que acontece às famílias multigeracionais? A composição da família muda em termos de convivência de gerações?

Quadro 1: Evolução do número de gerações que vivem juntas no agregado familiar (%). Espanha, 1991, 2001 e 2011.

Fonte: Elaboração própria com base nos Censos de 1991, 2001 e 2011.

A primeira coisa que observamos é que os lares de uma única geração aumentam a sua importância na distribuição, enquanto o peso das famílias com três ou mais gerações se reduz para menos de metade. Os agregados familiares de duas gerações (existe uma coexistência pai/mãe/filho) registam uma queda de mais de 11 pontos percentuais desde 1991. Por outras palavras, existe uma tendência para uma menor convivência entre gerações.

As famílias em geral reduzem o seu tamanho e não apenas porque há menos coexistência intergeracional (menos netos a viver com os avós, embora o número não tenha sido tão alto no passado, como vemos nos dados), mas também porque as gerações diminuem. Temos menos filhos (além de os termos mais tarde) e isto tem uma influência fundamental no tamanho do agregado familiar.

O paradoxo do anterior é que o ciclo dos agregados familiares é mais longo, por isso vivemos mais tempo com os filhos (que se emancipam mais tarde), mas a maior esperança de vida também nos faz viver mais tempo sozinhos. Assim, a mudança que a sociedade espanhola experimenta nas formas do lar tem sido experimentada principalmente pelos idosos (mais uma vez, liderando a mudança social), que passam de fazer parte de famílias numerosas na infância para liderar a ascensão de lares unipessoais e lares monogeracionais na velhice.

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