05/01/2018

Microrganismos na saúde e a longevidade

Microorganismos en la salud y la longevidad - Investigación, Ciencia

Bilhões de bactérias e outros microrganismos habitam naturalmente no nosso corpo, especialmente no nosso aparelho digestivo e principalmente no cólon. Esse conjunto de bactérias com as quais convivemos são conhecidas como microbiota ou microbioma. E são muito mais numerosas do que as nossas próprias células humanas. O equilíbrio entre ambas é fundamental.

O microbioma é fundamental para a saúde e a longevidade

Os especialistas em envelhecimento falam sobre vários determinantes da longevidade. Distribuídos em partes iguais seriam as condições aleatórias (a sorte, em definitiva), as condições naturais (especificamente genética) e condições ambientais (hábitos, meio ambiente, dieta ou saúde no útero antes do nascimento). E, como linha inovadora, começa-se a falar sobre o papel do microbioma como a causa das diferenças entre os indivíduos em saúde, mortalidade e esperança de vida.

Os investigadores estão cada vez mais interessados ​​em saber como é que esse conjunto de microorganismos interage connosco, de bactérias, essenciais para viver e que afetam a nossa saúde e doenças.

O peso total das bactérias com as que convivemos pode variar entre 900 gr e quase 2 quilos. Convivemos com mais de 40 mil espécies de bactérias diferentes. A maioria da microbiota humana é formada durante os primeiros dois ou três anos de vida, mas começamos a construí-la no canal de parto. A placenta tem o seu próprio microbioma e é possível que alguma parte possa ser transferida para o feto.

Cada indivíduo tem o seu próprio microbioma

O conjunto é característico de cada pessoa e situação. E a sua composição pode ser alterada de acordo com a dieta, o estado de saúde, a idade, a localização geográfica ou mesmo o stress da pessoa. Por exemplo, tomar antibióticos afeta. Mas a composição genética permanece, embora o número de bactérias mude.

Já se fala de que o microbioma pode tornar-se a nova impressão digital. Uma equipa da Universidade de Harvard parece ter confirmado que, no caso do microbioma, existem vários aspectos que são repetidos entre os indivíduos, mas as diferenças existentes são suficientes para caracterizar cada pessoa (Identifying personal microbiomes using metagenomic codes, publicado no PNAS).

A relação do microbioma com a saúde

Há muito tempo que se sabe que convivemos com bactérias e outros microorganismos benéficos e essenciais para a vida, no entanto, os estudos sobre esses organismos como um ecossistema e a sua interação com as nossas células é recente e muito popular (A decade studying the human microbiome). É raro o dia em que não se menciona que foram encontradas evidências do relacionamento que o microbioma tem com um novo aspecto da saúde e até mesmo o humor.

De qualquer forma, já se sabe que o microbioma intervém na digestão e metabolismo, tem funções defensivas já que produzem antibióticos naturais, reduzem o colesterol alto, desativam contaminantes e substâncias tóxicas e geram substâncias para prevenir o cancro e, naturalmente, modulam o envelhecimento.

A alteração do microbioma intestinal intervém em doenças

Relaciona-se o microbioma com a obesidade, com tendência a ter cáries ou autismo. Mas é que a alteração do microbioma é um fator mais, importante e até agora pouco conhecido, que intervém em alguns tipos de alergias e várias doenças auto-imunes, diabetes, colesterol alto, distúrbios hepáticos, problemas de pele, alguns tipos de cancro e processos degenerativos do sistema nervoso. Recentemente associou-se o Parkinson e o Alzheimer a alterações de bactérias intestinais.

Como solução em testes, podes ter ouvido falar de transplantes fecais. Consiste em transmitir as bactérias de um paciente saudável a um com certos problemas intestinais, como diarreia ou mesmo em casos graves de obesidade e outras doenças em que está a ser testado.

E de que forma afeta a longevidade?

Atrasar o processo de envelhecimento pode ser possível um dia com suplementos derivados de bactérias intestinais. Num projeto recente, investigaram se a composição genética do microbioma também poderia ser importante para a longevidade (publicado em Microbial Genetic Composition Tunes Host Longevity no revista Cell).

Os micróbios intestinais mudam com a idade, informava Carmen Peláez, do Instituto de Investigación en Ciencias de la Alimentación do CSIC (Autora do livro de divulgação, ¿Qué sabemos de… ‘La microbiota intestinal’? da editorial CSIC e Catarata).

A diminuição dos microorganismos pode contribuir para uma maior inflamação e morte prematura, ao envelhecer, inevitavelmente acabamos por sofrer de inflamação crónica de baixo grau. Vários estudos  trabalham para encontrar soluções que equilibrem a microbiota intestinal para melhorar a saúde intestinal e, portanto, prevenir doenças relacionadas com a idade. Nesse sentido, o uso de probióticos e prebióticos também está a ser estudado, mas a sua eficácia ainda não foi comprovada.

Neste aspecto, é interessante saber que aspectos desequilibram o microbioma, como o stress, a lactação artificial, o uso recorrente de antibióticos, o consumo regular de açúcar refinado, a falta de consumo de frutas e vegetais, vários medicamentos: esteróides, anti-inflamatórios, contraceptivos, laxantes, etc. Ou o consumo excessivo de bebidas alcoólicas, ou o alto consumo de gordura na dieta.

Teremos que cuidar das nossas bactérias, se elas estão felizes nós também.

Fonte: Envejecimiento en Red