Aplicação móvel de monitorização da atividade doméstica dos seniores através da televisão: uma abordagem sem alterações ao ecossistema doméstico
O envelhecimento da população é um fenómeno crescente na esmagadora maioria dos países desenvolvidos, sendo que Portugal e Espanha não fogem a esta regra. Em Portugal, segundo o Instituto Nacional de Estatística, cerca de 21% do total da população em 2015 tinha mais de 65 anos, sendo que a previsão aponta para que este número passe, em 2050, para cerca de 30% da população.
A somar a este envelhecimento generalizado da população, verifica-se também que, em Portugal, o número de idosos a viver sozinhos duplicou entre 2012 e 2018. Neste contexto, uma eficiente monitorização das pessoas idosas tem o potencial de identificar automaticamente acidentes (tais como quedas ou doenças súbitas) ou, não menos importante, alertar para situações de potencial risco permitindo aos cuidadores tomar medidas atempadas que evitem consequências graves (como as derivadas de falta de toma de medicação, desorientação física, assaltos, etc.). Na realidade, poder agir atempadamente é uma enorme mais-valia que, no limite, evitará casos dramáticos como aqueles em que os efeitos de um acidente/incidente só são conhecidos passados vários dias da sua ocorrência, quando, infelizmente, já nada mais há a fazer.
Contudo, a maioria dos sistemas atuais de monitorização é, de certa forma, intrusiva pois implica a utilização, por parte dos idosos, de pulseiras ou pendentes (com detetores de queda) ou a instalação em sua casa de, entre outros dispositivos, câmaras de vigilância e sensores de presença (por exemplo, por pressão ou por abertura). Este facto pode condicionar, por um lado, a instalação e disponibilização dos sistemas de monitorização e, por outro, a própria motivação e aceitação por parte dos idosos, habitualmente menos disponíveis para integrar nas suas rotinas diárias novos dispositivos tecnológicos. Torna-se, assim, ideal que a monitorização possa ser realizada de forma ágil e transparente recorrendo aos normais artefactos utilizados diariamente, sem qualquer necessidade de intervenção no ecossistema doméstico. Ora, um dos artefactos mais utilizados pelos idosos é, precisamente, a televisão e é com base neste dispositivo que o Projeto Individual 2 (integrado no Projeto Coordenado SecurHome) visa desenvolver uma aplicação móvel de monitorização da atividade doméstica através da televisão..
A abordagem tecnológica do projeto irá permitir dois modos de ação:
a) um modo proactivo, no qual, à imagem de outros sistemas de monitorização, os idosos poderão pedir ajuda (aos seus cuidadores) através do envio imediato de uma SMS desencadeada pelo simples premir de uma tecla do telecomando (equivalente a um panic button);
b) um modo automático e transparente que, através do cruzamento continuo de informação relativa ao estado do utilizador (TV ligada ou desligada); com desvios ao consumo televisivo típico; ausência de interação com a televisão; tomas de medicamentos, consultas ou exames em atraso, permitirá avisar o cuidador da existência de potenciais problemas. No sentido de minimizar falsos alertas, tentar-se-á que o sistema recorra aos dados da agenda do sénior, de forma a verificar se, naquele momento particular, é ou não expectável que ele esteja em casa. Por sua vez, o cuidador, para além de nos casos mais graves ser avisado automaticamente por SMS e correio eletrónico, poderá, em qualquer altura, através da sua aplicação móvel de monitorização da atividade doméstica, obter a seguinte informação relativa ao seu dependente:
• hora da última interação com a televisão;
• histórico do consumo televisivo (programas e canais);
• lista de medicamentos (tomados e por tomar);
• agendamento de exames e consultas do dependente.
Através da aplicação móvel, o cuidador poderá, ainda, enviar pequenas mensagens de texto para o televisor do sénior (seu dependente).
O objetivo societal deste projeto, ao nível do apoio ao sénior através de uma abordagem tecnológica sem alterações ao ecossistema doméstico, é, sem dúvida, um enorme fator de motivação para a equipa de investigação envolvida neste projeto. Esta conta com a participação de vários investigadores do grupo de investigação Social iTV (integrado na Unidade de Investigação DigiMedia, da Universidade de Aveiro) e de um investigador da Universidade Carlos III de Madrid, estando grata pelo apoio da Fundación General de la Universidad de Salamanca e do CENIE.