29/01/2024

Vicente Mera, especialista em envelhecimento: "Algumas pessoas preocupam-se demasiado com a qualidade dos alimentos, mas a primeira coisa é a quantidade".

Vicente Mera, experto en envejecimiento: «Algunos se preocupan demasiado por la calidad de la alimentación, pero lo primero es la cantidad» - CENIE, longevidad, envejecimiento, alimentación, vida saludable

O especialista, escolhido como o melhor médico europeu no domínio da medicina anti-envelhecimento, explica que gerir bem o apetite é essencial para a longevidade.

O envelhecimento, quando encarado de forma correta, é um sucesso. Embora se deva aos danos acumulados pelas células, que conduzem a uma degradação progressiva do organismo, envelhecer significa, sem mais, permanecer vivo. O desafio atual da medicina não consiste em prolongar a esperança de vida, mas em aumentar a qualidade de vida. Viver muitos anos, mas morrer jovem. "Penso que a primeira pessoa a tomar um comprimido anti-envelhecimento já nasceu. Isto significa que talvez uma criança que tenha agora um ano de idade estará a tomá-la quando tiver oitenta anos", prevê Salvador Macip, Diretor da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Aberta da Catalunha (UOC) e Professor de Biologia Molecular na Universidade de Leicester (Reino Unido).

O envelhecimento não se deve a um único fator, mas a vários. É uma espécie de destino natural inscrito nos genes que, por sua vez, se mistura com variáveis ambientais. A primeira está envolvida nos supercentenários, que não podem ser explicados sem a genética, enquanto os fatores ambientais determinam se alguém atinge uma idade mais avançada do que o resto da população.

"Comer de forma saudável, descansar e ser física e mentalmente ativo. Quando falamos de longevidade extrema, a genética desempenha um papel muito importante e não temos outra opção senão pensar se tivemos sorte à nascença e se nos foi dada uma combinação de genes vencedora", explica Manuel Collado, chefe do laboratório de Envelhecimento, Cancro e Células Estaminais do Instituto de Investigação em Saúde de Santiago (Idis). São poucos os que conseguirão essa fórmula mágica. Para os restantes, resta-nos cuidar do nosso corpo e evitar, dentro do possível, os danos celulares.

A quantidade é importante

O Dr. Vicente Mera, responsável pela Unidade de Medicina Genómica e Envelhecimento Saudável da Sha Wellness Clinic é um dos melhores médicos da Europa na área da Medicina Anti-Envelhecimento, é claro ao afirmar que sentir-se eternamente jovem assenta em três pilares: nutrição, exercício e saúde mental. 

Saber o que comer é tão importante como a quantidade a consumir. "Algumas pessoas gastam muito esforço em alimentos de alta qualidade, mas a primeira coisa é a quantidade", diz Mera, que salienta que a população em geral tende a consumir quantidades elevadas para a atividade física que faz. O especialista em anti-envelhecimento fala de um conceito que aprendeu durante a sua estadia no Japão: Hara Hachi Bu: "Significa que devemos ter sempre um pouco de fome. Significa que não se deve colocar mais de 8 partes em cada 10 no estômago", explica, "Descobriu-se que este tipo de jejum, este tipo de fome, é extremamente benéfico para a saúde e para o envelhecimento. Em suma, evite comer até rebentar.

A qualidade da comida, outro dos pilares.

No entanto, a quantidade por si só não é suficiente. A qualidade da matéria-prima também é importante. Para simplificar, Mera fala de dois grupos de alimentos: os superalimentos e os antialimentos. "Os primeiros tiram-nos o apetite porque nos saciam mais cedo e melhor, fornecem vitaminas e antioxidantes e, por conseguinte, contribuem para reduzir o envelhecimento", explica. 

Para além da fruta e dos legumes, dá exemplos concretos. Influenciado pela sua experiência em países asiáticos, o especialista recomenda, em primeiro lugar, o consumo de miso, um condimento à base de uma pasta japonesa feita com feijão de soja ou cereais, sal marinho e fermentada com o cogumelo koji, que é normalmente utilizado para fazer sopa.

Parece exótico, mas atualmente já está disponível em quase todos os supermercados. "Gosto muito porque tem propriedades diferentes. Tende a ser bastante saciante, o que é importante porque o problema de muitas pessoas é o apetite. Tem nutrientes para a pele, fígado ou rins; é também prebiótico, porque é um alimento fermentado; e, finalmente, tem um efeito anti-envelhecimento comprovado", diz. Então, quem é que não o quer comer? 

Mas não é o único. O azeite virgem extra, as azeitonas, a beterraba, o gengibre e o peixe gordo também contam. Todos eles devem constar de todas as listas de compras.

Os "anti-alimentos", aqueles que devem ser evitados no dia a dia

Do outro lado da balança estão os anti-alimentos, "que quando ingeridos em grandes quantidades ou em situações desadequadas podem fazer mais mal do que bem", diz o médico. O especialista dá vários exemplos. O primeiro deles é o açúcar. "Muitas vezes faz parte de produtos ultraprocessados, que são prejudiciais à saúde. Dá energia e prazer. Se alguém corre uma maratona precisa dele, mas em pessoas sedentárias não recomendo o seu consumo", explica. Da mesma forma, inclui a carne vermelha neste saco. "Reduzir o seu consumo e substituí-la por peixe pode ser uma boa alternativa. Há provas que a associam a problemas de saúde, como o aumento do risco de cancro do cólon em pessoas predispostas", afirma.

Meio a meio: exercício cardiovascular e de força

A base seguinte do anti-envelhecimento é o movimento. "Embora os mecanismos moleculares não sejam bem compreendidos, as virtudes do exercício físico e da longevidade estão suficientemente demonstradas", explica o especialista, que fala de dois tipos de exercício. Por um lado, o exercício cardiovascular, como caminhar, correr, andar de bicicleta ou nadar e, por outro, o treino de força. "É preciso encontrar um equilíbrio entre os dois. O exercício deve ser uma mistura de 50-50", diz ele.

Embora a fórmula ideal seja uma hora por dia, Mera sabe que isso é irrealista para a maioria das pessoas, pelo que aconselha dias alternados. "Se optar por um dia sim, dia não, deve dedicar pelo menos meia hora. Mas se escolher todos os dias, é suficiente começar com 15 minutos. A partir daí, só se pode crescer.

Vamos dançar!

No entanto, se há uma atividade em que Mera está empenhada, é a dança: "Inclui movimento, que é essencial para as articulações e para evitar dores nas costas e no pescoço. Mas também está provado que previne a demência e socializa, porque normalmente é feita com mais pessoas", explica.

E quem é que não sabe fazer? " Deixemos que aprendam", responde. No entanto, continua a lembrar a importância do treino com pesos. "Para esta última, o ideal é que a pessoa seja acompanhada por um profissional, sobretudo para não se lesionar. É preciso começar devagar para progredir", diz. De uma forma ou de outra, a diferença entre mexer-se e não se mexer é clara para ele: "20% mais de mortalidade".

Sono, telómeros e stress

No entanto, a saúde física não passa muito sem a saúde mental, e o sono e o stress têm muito a ver com isso. "Os telómeros - as extremidades dos cromossomas - são o que mede a idade biológica das pessoas, e vemos que quem dorme menos horas tem telómeros mais curtos", diz o especialista. Por outras palavras: vivem menos anos e com menos qualidade de vida. Ele recomenda 40 a 50 horas de sono por semana, "como um dia de trabalho. O problema é que tiramos horas de descanso para ver séries ou estar nas redes sociais", explica. 

Relacionado com o sono está o stress. Mera salienta que tentar reduzi-lo não faz sentido, "porque três dias depois, essa mesma pessoa estará à procura de outra coisa para fazer". Pelo contrário, prefere falar de técnicas que ajudem a lidar melhor com o stress, "uma espécie de válvulas de escape". 

Por isso, dá ênfase ao pranayama. Uma prática de ioga baseada no controlo da respiração. "Muitas vezes, quando estamos agitados, fazemos respiração intercostal. O pranayama obriga-nos a respirar profundamente com o diafragma", diz Mera. Três minutos são suficientes, "e é possível fazê-lo em qualquer sítio". Ele, por exemplo, pratica-o entre as consultas. Com isto em mente, o stress permanecerá, mas não viverá o seu dia a dia com o coração acelerado.

 

Fuente: La Voz de Galicia