Dinheiro, emoções e idade: compreender as nossas decisões para as mudar
Não tomamos decisões com uma folha de Excel na cabeça. Tomamo-las com aquilo que sentimos, que tememos, que vivemos. Compreender as nossas decisões económicas — e como mudam com a idade — não é apenas útil: é necessário para construir uma liberdade real, possível… e partilhada.
Poupamos porque queremos… ou porque podemos?
A economia não se decide apenas com a calculadora. Decide-se também com o estômago apertado, com a euforia de um rendimento inesperado, com o cansaço das segundas-feiras ou com o medo de ficar para trás. Quando se trata de dinheiro, não somos tão racionais quanto pensamos. E talvez por isso mesmo precisemos de políticas que não apenas informem, mas que acompanhem. Que não ditem, mas que desenhem.
A psicologia do comportamento — com contribuições fundamentais como as de Shlomo Benartzi ou Richard H. Thaler — ensinou-nos algo essencial: a forma como tomamos decisões económicas é moldada pelas nossas emoções, pelos nossos enviesamentos, pela nossa idade e pela nossa história pessoal. Compreender isto não é uma curiosidade académica: é a base para construir uma sociedade mais justa e longeva.
As emoções contam (e muito)
Porque é que tantas pessoas evitam olhar para os seus extratos bancários, mesmo sabendo que o deveriam fazer? Porque é que adiamos decisões de poupança que sabemos serem necessárias? Porque gastamos mais com cartão do que com dinheiro físico?
A resposta não está apenas na falta de conhecimento, mas nas emoções: o medo da escassez, a culpa por decisões passadas, o alívio momentâneo de uma compra ou a esperança de que amanhã será mais fácil. O dinheiro ativa zonas do cérebro ligadas ao prazer, ao stress, ao controlo… e à vergonha.
Os dados confirmam: pessoas com experiências económicas traumáticas (crises, desemprego prolongado, dívidas familiares) tendem a apresentar padrões de decisão diferentes, mesmo quando a sua situação objetiva melhora. A emoção pesa mais do que a informação.
A idade muda as nossas decisões
As nossas decisões financeiras aos 20 não são as mesmas que aos 60. Com o tempo, mudamos de objetivos, de prioridades, de horizontes. Mas também mudam os nossos enviesamentos: enquanto os mais jovens tendem a subestimar riscos e a priorizar o presente, as pessoas mais velhas podem cair em excesso de precaução ou desconfiança.
Numa sociedade longeva, compreender estas mudanças é fundamental. Não se trata de criar produtos financeiros “para idosos”, mas de desenhar ambientes que respeitem a diversidade de trajetórias e capacidades. Nem infantilizar, nem sobrecarregar. Apenas acompanhar bem.
Da educação ao design: uma mudança de enfoque
Durante décadas, insistiu-se na educação financeira como resposta aos problemas de comportamento económico. Mas a evidência sugere que não basta “ensinar” a decidir bem. A maioria das pessoas não toma decisões financeiras numa sala de aula, mas num multibanco, numa aplicação ou numa conversa familiar tensa.
Por isso, a abordagem comportamental propõe ir mais além: desenhar ambientes — o que Benartzi chama de arquiteturas de escolha — que tornem mais fácil escolher bem. Não obrigar, mas facilitar. Por exemplo:
- Apresentar as opções de forma clara e sem armadilhas.
- Definir por defeito decisões que beneficiem (como a inscrição automática em planos de poupança, com opção de saída).
- Evitar linguagem técnica ou contratos ininteligíveis.
- Relembrar de forma empática, e não ameaçadora.
Isto não é paternalismo. É justiça aplicada aos contextos reais onde se decide.
O perigo do paternalismo financeiro
Muitas vezes, as políticas públicas ou os serviços bancários assumem um tom paternalista: partem do princípio de que as pessoas não sabem, não podem ou não querem melhorar a sua situação. Isto não é apenas injusto, é também ineficaz. A desconfiança gera mais distância, mais medo, mais paralisia.
O que muitas pessoas precisam não é que alguém decida por elas, mas que o ambiente não as empurre para o erro. Que possam pedir ajuda sem se sentirem julgadas. Que a autonomia não seja um privilégio reservado a quem teve a sorte de aprender antes.
O bem-estar financeiro não nasce da imposição, mas da construção de confiança.
Desenhar liberdade: a arquitetura do bem-estar
A arquitetura do bem-estar propõe algo mais ambicioso do que informar: propõe redesenhar os ambientes de decisão para que escolher bem seja mais simples, mais natural, mais acessível. Não se trata de eliminar a liberdade, mas de torná-la alcançável para todos.
Isto implica repensar desde como se comunica uma pensão até à forma como se apresenta um apoio social ou se estrutura uma oferta bancária. Cada detalhe importa: a forma, o momento, a linguagem.
E também implica integrar a variável idade na arquitetura: saber como mudam as emoções, as motivações e os recursos ao longo da vida é essencial para construir políticas financeiras verdadeiramente intergeracionais.
Que conselho sobre dinheiro gostarias de ter dado a ti próprio há 20 anos?