24/03/2025

Esperança de Vida Saudável em Espanha

A Esperança de Vida Saudável (EVS) consolidou-se como um indicador fundamental para compreender o verdadeiro alcance da longevidade nas nossas sociedades. Ao contrário da esperança de vida, que mede apenas a duração média da vida, a EVS incorpora um elemento qualitativo decisivo: quantos desses anos são vividos em boas condições de saúde. Num país como Espanha, onde a esperança de vida é uma das mais elevadas do mundo, a questão-chave já não é apenas quantos anos vivemos, mas como os vivemos.

Esta mudança de perspetiva é essencial no contexto do envelhecimento populacional. Os avanços médicos e sociais permitiram ampliar de forma sustentada a sobrevivência, mas as melhorias na morbilidade — a redução de doenças e incapacidades — não acompanharam o mesmo ritmo. Daí que a análise da EVS esteja hoje no centro do debate público e científico: estamos a ganhar vida com saúde ou a prolongar a vida com doença e dependência?

Um indicador para sociedades longevas

A EVS permite observar as desigualdades que se escondem por trás da média nacional. Nem todos os grupos sociais, territórios ou géneros vivem da mesma forma esses anos adicionais. Enquanto algumas comunidades usufruem de longos períodos de vida saudável, outras enfrentam níveis mais elevados de doença crónica ou incapacidade desde idades precoces. Estas diferenças refletem a influência de fatores sociais, económicos e ambientais: desde o nível de escolaridade ou a qualidade da habitação até à exposição à poluição ou ao acesso a serviços de saúde.

A paradoxo de género é um exemplo paradigmático. As mulheres vivem mais anos do que os homens, mas tendem a fazê-lo com uma maior carga de doenças não mortais, o que significa que passam mais tempo em condições de saúde limitadas. A isto somam-se os contrastes territoriais, visíveis entre comunidades autónomas e até dentro delas, que evidenciam a necessidade de políticas adaptadas à diversidade regional.

Em suma, a EVS oferece uma visão muito mais completa e realista sobre o envelhecimento. Mostra-nos não apenas a quantidade de vida, mas também a sua qualidade, permitindo antecipar necessidades e orientar políticas públicas para um objetivo central: garantir que os anos ganhos à vida sejam também anos ganhos à saúde.

Um Estudo-Chave no Âmbito do Projeto IBERLONGEVA

Conscientes da importância estratégica deste indicador, a Universidade de Salamanca, através do Centro Internacional sobre o Envelhecimento (CENIE), promove, no âmbito do projeto IBERLONGEVA, o estudo “A Esperança de Vida Saudável em Espanha”, desenvolvido pelo Centre d’Estudis Demogràfics (CED). Esta investigação conta com o apoio da União Europeia através do Programa Interreg, Espanha-Portugal, POCTEP 2021-2027.

O projeto IBERLONGEVA promove uma visão positiva e inovadora da longevidade, entendida não como um fardo, mas como uma oportunidade de transformação social e económica. Neste contexto, a análise da EVS adquire um valor singular, pois permite identificar em que medida o aumento da esperança de vida se traduz também em vidas mais plenas e autónomas.

O estudo procura monitorizar a evolução da EVS em Espanha e nas suas comunidades autónomas ao longo das últimas décadas, explorar as diferenças entre homens e mulheres, analisar os gradientes socioeconómicos e compreender que fatores e doenças explicam o fosso existente entre esperança de vida e esperança de vida saudável. Desta forma, será gerado um conhecimento rigoroso e útil para o desenho de políticas públicas baseadas em evidência, orientadas para reduzir desigualdades e promover um envelhecimento mais saudável e equitativo.

Para além do diagnóstico, a investigação contribuirá com estratégias concretas para enfrentar o futuro. Reduzir o fosso entre anos vividos e anos vividos com saúde não é apenas uma aspiração ética, mas também uma necessidade social e económica. Implica garantir a sustentabilidade dos sistemas de saúde e pensões, bem como favorecer a autonomia pessoal e a qualidade de vida da população.

Colaboração com o Conselho Económico e Social de Portugal

O desafio do envelhecimento e da saúde não conhece fronteiras. Paralelamente ao trabalho em Espanha, o Conselho Económico e Social (CES) de Portugal iniciou um estudo sobre a esperança de vida e os anos de vida saudável no seu território. Esta iniciativa insere-se na cooperação estabelecida entre o CES e o CENIE, que procura abordar a longevidade a partir de uma perspetiva ibérica e transfronteiriça.

O trabalho conjunto entre Espanha e Portugal permitirá enriquecer a análise comparativa, identificar tendências comuns e assinalar diferenças relevantes que possam orientar a ação política em ambos os países. Além disso, abrirá a possibilidade de desenhar estratégias partilhadas para garantir um envelhecimento saudável, sustentável e equitativo em todo o espaço ibérico.

A cooperação entre o CENIE e o CES representa um passo decisivo para a construção de um quadro europeu de referência sobre longevidade e saúde. Este esforço conjunto demonstra que o estudo da EVS não é apenas uma questão estatística, mas uma ferramenta estratégica para orientar o futuro das nossas sociedades longevas.