16/08/2025

Longevidade e Ambiente: pode um planeta envelhecido ser sustentável?

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Envelhecer bem não depende apenas dos nossos corpos. Depende também do ar que respiramos, do meio que habitamos e do planeta que partilhamos. Num mundo que envelhece e aquece ao mesmo tempo, as questões sobre sustentabilidade e longevidade já não podem ser tratadas separadamente.

Um cruzamento inevitável: envelhecimento e alterações climáticas

Durante anos, o envelhecimento da população e a degradação ambiental foram considerados fenómenos paralelos: um demográfico, o outro ecológico. Hoje, essa separação já não faz sentido. A forma como envelhecemos é condicionada pelo meio em que o fazemos, e a saúde do planeta depende, em parte, de como as sociedades longevas reorganizam as suas prioridades, os seus espaços e os seus estilos de vida.

No Japão, por exemplo, as cidades estão a adaptar os seus planos de gestão de emergências à crescente proporção de pessoas idosas, conscientes de que os tufões e as ondas de calor afetam mais quem tem menor mobilidade. Na Dinamarca, o planeamento urbano combina eficiência energética com habitação intergeracional para reduzir o isolamento e o consumo de recursos.

A transição demográfica e a transição ecológica não ocorrem apenas ao mesmo tempo: estão profundamente entrelaçadas. A longevidade precisa de ambientes habitáveis. O meio ambiente exige decisões com visão a longo prazo e intergeracional. No fundo, ambas as questões falam do mesmo: cuidar.

Urbanismo tóxico ou cidades cuidadoras

Mais de 60% das pessoas idosas na Europa vivem em cidades. Contudo, muitos ambientes urbanos continuam a ser concebidos segundo lógicas que colidem com a saúde, a equidade e a idade: tráfego excessivo, ilhas de calor, poluição atmosférica, falta de sombra, barreiras arquitetónicas, habitações ineficientes.

Em Paris, um estudo municipal revelou que a temperatura pode variar até 7°C entre bairros arborizados e zonas densamente construídas sem vegetação – algo crucial nos verões extremos. Em Vitoria-Gasteiz, a rede de “anéis verdes” não só protege a biodiversidade, como oferece espaços frescos e pedonais que melhoram a qualidade de vida das pessoas idosas.

Em sociedades longevas, o urbanismo não pode ignorar o corpo que envelhece. Não basta ter rampas e elevadores: é preciso bairros caminháveis, árvores que reduzam a temperatura, transporte acessível, bancos à sombra e espaços comuns sem consumo obrigatório. Projetar para envelhecer bem é também projetar para viver de forma mais sustentável.

Saúde ambiental, saúde coletiva

A poluição do ar é uma das principais ameaças ambientais para a saúde, e os seus efeitos são mais graves nos extremos da vida: infância e velhice. As pessoas idosas acumulam décadas de exposição a poluentes e são mais vulneráveis às suas consequências: doenças cardiovasculares, pulmonares e neurodegenerativas.

Em Madrid, observou-se que, durante episódios de elevada poluição, as admissões hospitalares por problemas respiratórios aumentam 12% entre os maiores de 65 anos. Em Londres, a campanha “School Streets” reduziu a poluição e o ruído nas áreas escolares, beneficiando também os residentes mais velhos da vizinhança.

Mas não se trata apenas de dióxido de azoto ou micropartículas: falamos também de ruído, de stress térmico e da perda de natureza – fatores que afetam diretamente o descanso, a saúde mental e o bem-estar físico.
Uma longevidade com sentido exige garantir a saúde ambiental. E, inversamente, proteger o meio que habitamos é também proteger a velhice que viveremos.

Justiça ecológica intergeracional

Um dos desafios éticos mais urgentes do século XXI é a justiça intergeracional: equilibrar os interesses das gerações atuais com os direitos das futuras – e fazê-lo sem as colocar em confronto.

Na Alemanha, o programa “Generations Garden” junta jovens e idosos para cultivar hortas comunitárias, combinando educação ambiental e coesão social. Em Portugal, comunidades costeiras adaptaram sistemas de alerta precoce contra tempestades que incluem redes de apoio para as pessoas idosas que vivem sozinhas.

Por vezes, o discurso ambientalista cai na tentação de opor “jovens ativistas” a “idosos indiferentes”, como se a idade fosse uma barreira ao compromisso. Mas há outra história a contar: a de muitas pessoas idosas que foram pioneiras do ecologismo ou que vivem com uma pegada ecológica mínima por cultura, e não por moda.

Ao mesmo tempo, é justo reconhecer que a população idosa necessita de proteção face aos efeitos das alterações climáticas. As ondas de calor afetam mais quem já tem a saúde debilitada. As catástrofes naturais atingem mais quem tem menor mobilidade, rendimentos mais baixos ou vive sozinho.

A resposta não está no conflito, mas sim no cuidado mútuo como princípio orientador. E na construção de políticas que integrem todas as idades na transformação ecológica, não apenas como beneficiárias, mas como protagonistas.

Uma longevidade que cuide do planeta

Envelhecer bem no século XXI já não pode ser desligado do estado do planeta. Habitação, alimentação, mobilidade, consumo energético, infraestrutura sanitária… tudo está atravessado pela dupla condição de ser sustentável e longevo.

Em Barcelona, o plano “Superilles” (superquadras) reduz o tráfego, aumenta os espaços verdes e dá prioridade ao trânsito pedonal, com impacto positivo na saúde e no bem-estar, especialmente entre as pessoas idosas. Na Islândia, programas de eficiência energética permitiram que lares de pensionistas reduzissem os custos de aquecimento e a sua pegada de carbono.

Devemos perguntar-nos: estamos a conceber ambientes para corpos jovens e estilos de vida acelerados? Ou a construir um futuro no qual seja possível viver muito, e viver bem, sem comprometer o que é comum?

A longevidade não pode ser um privilégio individual à custa do meio coletivo, nem um sacrifício silencioso. Se quisermos que mais pessoas vivam mais anos, precisamos de garantir que esses anos decorram num planeta ainda capaz de sustentar a vida.


Que herança ecológica queremos deixar a quem envelhecerá amanhã?