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24/10/2025
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Manu Brabo: a verdade no instante

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Júri da VI edição do Concurso de Fotografia do CENIE

 

Há fotógrafos que procuram a beleza, e há outros que a descobrem mesmo no meio do caos. Manu Brabo pertence a esta segunda estirpe: a daqueles que fizeram da fotografia uma forma de testemunho e de consciência. O seu olhar, nascido em Saragoça em 1981 e moldado em alguns dos cenários mais duros do planeta, é um lembrete de que a imagem pode ser também uma forma de justiça.

 

Fotojornalista freelancer, Manu Brabo trabalhou em zonas de conflito como o Haiti, o Kosovo, a Bolívia ou a Líbia. Neste último país foi detido em 2011 durante a ofensiva das tropas de Kadhafi e permaneceu preso durante mais de um mês antes de ser libertado. Desde então, o seu nome ficou ligado a uma forma de entender o jornalismo que combina risco, humanidade e compromisso.

 

Formado na Escola de Artes de Oviedo, iniciou a sua carreira em 2007 e muito rapidamente a sua obra se tornou uma referência do fotojornalismo contemporâneo. Em 2013 recebeu o Prémio Pulitzer na categoria de Breaking News Photography, o maior reconhecimento internacional para um fotógrafo, pela sua cobertura da guerra civil na Síria.

 

Mas, para além dos prémios — entre eles o Chris Hondros Memorial Award, o Prix Bayeux-Calvados para correspondentes de guerra, ou o British Journalism Award como Photographer of the Year —, o que distingue Manu Brabo é a sua capacidade de olhar a dor sem perder a compaixão. A sua câmara não se detém na tragédia: transforma-a em narrativa humana.

 

Fotografar para compreender

 

Ao longo da sua trajectória, documentou guerras, migrações e catástrofes naturais para meios como The Wall Street Journal ou The Associated Press, e para organizações como Repórteres Sem Fronteiras ou a fundação The Welcome Trust. Em cada imagem pulsa uma pergunta: como continuamos a ser humanos em meio ao desastre?

 

A sua série Um dia qualquer, realizada com a National Geographic e transformada em exposição itinerante por Madrid e Barcelona, é uma síntese do seu olhar. Aí, os rostos anónimos do Médio Oriente retratado por Brabo devolvem-nos uma verdade incómoda: a guerra não é uma paisagem distante, mas uma condição humana que nos interpela a todos.

 

Nos últimos anos, ampliou o seu campo de acção com projectos que transcendem a crónica bélica para se aprofundar na dimensão emocional e social da fotografia. Colaborou em campanhas culturais e solidárias, como Repórteres de guerra contra o cancro da mama, em projectos artísticos com o Museu do Prado ou em iniciativas que cruzam fotografia e música, como Ukráina, em parceria com a banda de rock Toundra.

 

Além disso, partilhou a sua experiência como docente no Mestrado de Fotojornalismo da EFTI, transmitindo às novas gerações uma lição essencial: a câmara não é um escudo, mas uma forma de responsabilidade.

 

O olhar que humaniza

 

A integração de Manu Brabo no júri da VI edição do Concurso de Fotografia do CENIE acrescenta ao certame um componente ético e narrativo de enorme valor. A sua trajectória recorda-nos que a fotografia não é apenas estética: é também memória, denúncia e empatia.

 

O tema deste ano — A idade não nos define. O olhar sim — encontra na sua obra uma ressonância profunda. Porque, nos rostos que retratou — de combatentes, refugiados, mães ou idosos que resistem em meio ao colapso —, a idade nunca foi um limite, mas sim uma história escrita na pele.

 

A sua presença no júri reforça a essência do concurso: mostrar a vida em toda a sua amplitude, com as suas feridas e a sua beleza, com as suas contradições e a sua esperança. Cada participante, a partir da sua própria realidade, pode oferecer uma visão que amplie a nossa compreensão do mundo.

 

Um convite à participação

 

O prazo para apresentar fotografias termina a 30 de novembro. Participar é uma forma de se unir a esse legado de verdade que Manu Brabo representa: olhar sem medo, mas com respeito.

 

O júri do CENIE, do qual faz parte juntamente com grandes referências internacionais, avaliará as obras com o rigor e a sensibilidade que exige um certame que procura redefinir a forma como olhamos a longevidade e a condição humana. Porque, no fundo, como demonstra a obra de Brabo, fotografar é escolher o que merece ser lembrado.
 

Descobre o trabalho de Manu Brabo aqui.

Para participar no concurso de fotografia basta clicar no seguinte link.