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04/12/2025
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Longevidade e transformação social: chaves de uma conversa necessária para compreender o futuro

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Publicou-se recentemente uma extensa entrevista entre Juan Martín, diretor do CENIE, e José Pedro Martín, diretor do Centro de Inovação de Escritórios Profissionais. Durante duas horas de conversa aberta e serena, ambos analisam as mudanças profundas que a longevidade introduz nas nossas sociedades.

 

O CENIE deseja manifestar o seu agradecimento ao Centro de Inovação de Escritórios Profissionais por esta oportunidade de colaboração. Com mais de 330.000 subscritores no seu videoblog, a sua plataforma constitui um espaço de referência para a divulgação rigorosa e acessível sobre inovação, transformação social e tendências de futuro. A sua aposta pela qualidade editorial permitiu que esta conversa alcançasse uma audiência ampla e diversa.
 

 

 

Uma brecha central: viver mais nem sempre significa viver melhor

 

O diálogo parte de uma constatação amplamente citada, mas ainda insuficientemente assumida: Espanha é um dos países com maior esperança de vida do mundo, superando os 84 anos (INE). No entanto, a esperança de vida saudável situa-se em torno dos 61 anos (EUROSTAT), o que implica que uma parte muito considerável do envelhecimento se vive com limitações ou perda de autonomia.

 

Este desajuste encontra-se no centro dos trabalhos que o CENIE desenvolve em projetos como o IBERLONGEVA, orientados a identificar os estágios prévios de fragilidade física, cognitiva e social. A investigação que se realiza em Zamora, Ourense e Bragança permite avançar para uma compreensão mais precisa de quando se inicia o deterioro e que intervenções comunitárias e preventivas podem atrasá-lo ou inclusivamente revertê-lo.

 

Reorientar o sistema de saúde para a prevenção

 

A entrevista aprofunda a necessidade de repensar o sistema de saúde, tradicionalmente organizado em torno da doença. Insiste-se em introduzir um terceiro pilar junto da atenção primária e hospitalar: a prevenção. Este enfoque coincide plenamente com a abordagem do CENIE, que trabalha na construção de indicadores e modelos preditivos para antecipar riscos de fragilidade.

 

Os desenvolvimentos realizados no âmbito de um Observatório de Saúde e Longevidade permitem integrar informação sobre função física, hábitos de vida, estado cognitivo, bem-estar emocional e ambiente social, gerando uma base de evidência para orientar políticas públicas destinadas a prolongar a autonomia das pessoas idosas.

 

Uma nova estrutura vital: longevidade e reinvenção

 

A conversa aborda também uma mudança cultural profunda: a longevidade questiona a sequência vital tradicional — formação, emprego, reforma — que tinha estruturado a vida durante grande parte do século XX. O aumento da esperança de vida e a aceleração das mudanças tecnológicas fazem com que as trajetórias vitais se fragmentem em múltiplas etapas, obrigando a repensar a aprendizagem contínua, as transições laborais e a flexibilidade no trabalho e na reforma.

 

O CENIE leva anos a analisar estes fenómenos numa perspetiva multidisciplinar, explorando a intergeracionalidade, os novos ambientes de aprendizagem e a transformação das identidades profissionais em sociedades com ciclos vitais mais amplos.

 

Solidão indesejada: um desafio social de primeira magnitude

 

Um dos blocos mais significativos da conversa centra-se na solidão indesejada, um fenómeno que cresce em todas as idades, mas que adquire formas particularmente complexas na velhice. A entrevista recolhe exemplos concretos de investigações realizadas na cidade de Zamora, onde o CENIE estudou a solidão em profundidade e impulsionou intervenções comunitárias com resultados positivos.

 

Estes trabalhos mostram que a solidão não se reduz à ausência de contactos, mas à perda de vínculos significativos, à invisibilidade social e à erosão progressiva da comunidade. A reconstrução da vida social — mediante espaços de encontro, atividades partilhadas e relações intergeracionais — emerge como um componente central do envelhecimento saudável.

 

A economia da longevidade: uma oportunidade estrutural

 

A conversa dedica um apartado fundamental à economia da longevidade, âmbito no qual o CENIE desenvolveu estudos pioneiros. Em Espanha, a despesa dos lares com mais de 50 anos representa uma parte decisiva da atividade económica, muito superior a setores tradicionalmente considerados estratégicos. As pessoas com mais de 50 anos são, além disso, as que mais viajam, as que mais gastam quando o fazem, as que apresentam maior estabilidade financeira e as que acumulam a maioria do património.

 

Este enfoque rompe com a visão reducionista da velhice como etapa associada exclusivamente à dependência ou ao gasto social. A longevidade, pelo contrário, abre oportunidades em setores como o turismo, os cuidados profissionais, a habitação, a inovação social e a tecnologia orientada para a autonomia.

 

Bem-estar financeiro: para além dos rendimentos

 

A entrevista aborda também o bem-estar financeiro subjetivo, um conceito chave que o CENIE trabalha juntamente com especialistas em economia comportamental. Não se trata apenas de rendimentos ou património, mas da perceção de segurança, tranquilidade e capacidade para enfrentar o futuro. Neste âmbito, a conversa introduz reflexões sobre a sustentabilidade dos sistemas de pensões, a importância da poupança automatizada e a necessidade de desenhar políticas económicas que tenham em conta os vieses comportamentais das pessoas.

 

Os estudos do CENIE sobre bem-estar financeiro exploram precisamente como se estruturam estas perceções e que fatores — sociais, económicos, culturais — influenciam a tranquilidade económica ao longo do ciclo vital.

 

Território e longevidade: um olhar renovado

 

Outro dos temas destacados é o papel do território no envelhecimento. A entrevista sugere que muitos espaços rurais, semiurbanos ou de baixa densidade apresentam condições que poderiam ser consideradas autênticos “territórios de bem-estar”: ambientes mais seguros, ritmos de vida mais serenos, redes sociais mais estreitas e níveis de stress significativamente menores do que nas grandes cidades.

 

Estas reflexões conectam diretamente com o projeto DEMO·GRAFO, onde o CENIE trabalha na integração de dados territoriais, demográficos e de bem-estar para compreender como diferentes habitats favorecem — ou dificultam — a saúde e a qualidade de vida ao longo do envelhecimento. Esta linha de trabalho abre novas perspetivas sobre políticas de retorno, mobilidade e reequilíbrio territorial.

 

Biotecnologia, ética e equidade

 

A entrevista não evita questões de fundo como o acesso às inovações em biotecnologia, os avanços na medicina do envelhecimento ou a necessidade de garantir que a extensão da vida não gere novas desigualdades. Estes pontos coincidem com a agenda do CENIE em fóruns como o Age Open Science, que examina a relação entre ciência, longevidade, equidade e acesso universal.

 

Felicidade e sentido vital em sociedades longevas

 

O diálogo conclui com uma reflexão sobre a felicidade que transcende a pergunta habitual e se aprofunda em dimensões essenciais do bem-estar subjetivo: o propósito, os vínculos, a serenidade interior e a capacidade de manter um olhar generoso e equilibrado sobre a própria vida. Estas questões fazem parte da linha de trabalho do CENIE sobre bem-estar emocional e qualidade de vida, que procura compreender como as pessoas constroem sentido ao longo de etapas vitais cada vez mais amplas.

 

A entrevista oferece um percurso amplo, sólido e humanista pelos principais desafios e oportunidades que a longevidade coloca. O seu valor reside não só na clareza com que se expõem os temas, mas também na ligação com os projetos que o CENIE impulsiona para compreender e acompanhar estas mudanças.

 

Sempre a partir de uma abordagem baseada na evidência, com atenção à diversidade de experiências e com o compromisso de promover sociedades longevas coesas, equitativas e saudáveis.

 

O CENIE continuará a favorecer espaços de diálogo e divulgação rigorosa que permitam avançar para uma compreensão integral da longevidade como oportunidade social, económica e humana.
 

 

Entrevista completa no link.