22/02/2024

Queremos cidades que promovam as vidas mais longas

Queremos ciudades que alarguen la vida. - Tribuna Abierta, CENIE

Em 2040 a Irlanda quer ser o país mais saudável do mundo. Uma estratégia desenhada em meados de 2018, se não antes, e que já está a ser implementada. É já hoje oficialmente reconhecida como o primeiro país “Age Friendly” do mundo, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). 

Ser em 2040 o país mais saudável do mundo implicou tanto uma forte visão de longo prazo como uma compreensão da necessária mudança de foco do envelhecimento para a longevidade, numa antecipação da estratégia da mesma OMS para a década 2020-2030.

Em março de 2023 esteve em Lisboa o italiano Nic Palmarini, que é hoje o diretor do National Innovation Centre for Ageing (NICA). A convite da Embaixada do Reino Unido esteve num evento promovido pela mesma embaixada em parceria com a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, onde teve a oportunidade de falar sobre esta ligação entre as cidades e a longevidade.  

Na conversa que tivemos os dois, Nic pode detalhar esta construção que se está a fazer no NICA, de um modelo de cidade promotora da longevidade e que seja exportável para outras cidades. A proposta que faz implica que as câmaras municipais passem a ser mais proativas na promoção da saúde e de todo um complexo leque de soluções que estão a aparecer no mercado e que se destinam a promover o aumento positivo dos anos de vida. 

Também de Itália vem uma outra proposta, desta vez fortemente sustentada na Inteligência Artificial, de conceito de cidade promotora da longevidade e que seja exportável para outras cidades, desenhado por um colega – Renzo Tafarello. 

Renzo está muito focado na economia sustentável que agregue a alta tecnologia e a economia verde e agora olha também para a longevidade como um dos mais importantes fatores de mudança que irão marcar o nosso século. 
Em conjunto com outros investigadores quer aplicar a sua expertise na indústria aeroespacial no desenho de conceito de cidade alinhada com aquilo que se antevê que venha a marcar o urbanismo: tecnologia, economia verde e sustentada, longevidade e uma sociedade marcada por mais adultos que jovens e crianças. 

Em Espanha a longevidade é cada vez mais levada a sério de tal modo que, em breve, os manuais escolares vão ter conteúdos que visem a promoção da literacia para a longevidade. Porque para os governantes no nosso país vizinho, a longevidade será estrutural e é preciso, o quanto antes, preparar os cidadãos para o facto que vão viver mais. 

Do que vejo, há uma mudança de visão no desenho dos núcleos urbanos que parte do pensar as cidades como ecossistemas promotores da longevidade, sabendo que deve ser ao mesmo tempo amigável para todos, mas em particular para os mais velhos. 

Pensar o urbanismo com foco na longevidade passa também por perceber que tipo de bairro queremos ter, que seja efetivamente um bairro promotor da longevidade. Isto irá implicar não só no desenho de uma outra forma de locomoção, mas também promover o aparecimento de um comércio e serviços que promovam a saúde e que esteja em linha com as necessidades e desejos de consumo e de estilo de vida daqueles que querem viver mais e melhor. 
Deve ser também um espaço que promova a mudança de comportamento. Não sendo adepta de uma visão da saúde como uma questão de mérito, a verdade é que o ambiente em que se nasce e onde se vive precisa de ser promotor de uma forma de estar mais centrada na prevenção da saúde. Este é um dos principais caminhos para que num futuro próximo as cidades fiquem bem contadas num índice da longevidade que vai medir a idade dos seus cidadãos com base na idade biológica e fazer um ranking das cidades.

O artigo de Dmitry Kaminskiy publicado no site da Henley & Partners (empresa considerada líder mundial no desenho de conceitos residenciais para um segmento premium) intitulado “Today’s Age-Friendly Cities, Tomorrow’s Longevity Valleys” refere que a gestão das cidades, para que sejam promotoras da longevidade, devem ser pensadas como vales da longevidade através da criação de “áreas que combinam todas as facetas da indústria da longevidade, capacitando idosos e indivíduos de meia-idade física, mental, social e financeiramente. Enquanto as cidades amigas do idoso são bons lugares para se aposentar, as cidades amigas da longevidade serão locais ideais para permanecer profissional, mental, social e economicamente ativo pelo maior tempo possível.”

Esta necessária mudança de foco implica em que o executivo camarário não só tenha uma estratégia para o cidadão sénior, dado que será o grupo etário com maior peso na sociedade, mas também que pense de que forma é possível mudar comportamentos e fazer com que todos os que nela vivem e trabalham, percebam que vão viver mais tempo, que vão ser avaliados pelos respetivos biomarcadores que cada vez mais se tornam os referenciais de risco para pessoas, famílias, empresas e organizações e em breve nos países. 

Centros de saúde focados na longevidade, mercados com oferta de produtos que contribuem para uma melhoria da saúde e sistemas de transportes públicos seguros e acessíveis são algumas das áreas a serem trabalhadas quando se pensa numa cidade que seja promotora de um tempo de vida maior. 

Ana João Sepulveda
CEO da 40+ Lab
Expert na Economia da Longevidade