10/05/2025

A saúde como capital de vida: chaves para uma longevidade partilhada

dfgbn

Viver mais não basta. Se não investirmos em saúde, equidade e prevenção, a longevidade será apenas uma promessa por cumprir. 

Mudar a narrativa: envelhecer já não é render-se 

Durante décadas, envelhecer foi percecionado como uma sucessão inevitável de perdas: de força, de autonomia, de relevância social. Mas a ciência, a demografia e a experiência vivida estão a ajudar a derrubar essa visão derrotista. Hoje sabemos que envelhecer não tem de ser sinónimo de declínio. 

De facto, em muitas partes do mundo, viver mais anos — e vivê-los melhor — já é uma possibilidade concreta, e não apenas um privilégio reservado a alguns. 

Um novo cenário: longevidade como fenómeno estrutural 

A longevidade deixou de ser uma exceção biográfica para se tornar um fenómeno estrutural. Cada vez mais pessoas ultrapassam os 80, os 90 e, em alguns casos, os 100 anos. Mas o que é verdadeiramente revolucionário não é apenas essa extensão do tempo, mas sim a oportunidade de viver esses anos adicionais com saúde, autonomia e propósito. 

E isso está mais próximo do que julgamos. Os estudos mais recentes confirmam o que muitos já intuíamos: os hábitos que cultivamos ao longo da vida — e também na velhice — têm um impacto direto e cumulativo sobre a nossa longevidade e, sobretudo, sobre a sua qualidade. 

Ciência, hábitos e esperança ativa 

Uma análise realizada com pessoas com mais de 80 anos mostrou que aquelas que mantinham hábitos saudáveis — dieta equilibrada, exercício regular, não fumar, consumo moderado de álcool — tinham até 60% mais probabilidades de se tornarem centenárias do que aquelas com estilos de vida menos saudáveis. 

Este dado não só desmonta mitos (“já é tarde para mudar”), como também introduz uma esperança ativa: a saúde na velhice pode ser trabalhada. Não depende apenas da genética — é também atitude, contexto e oportunidade. 

Outro estudo longitudinal na China demonstrou que até mesmo pessoas com elevada predisposição genética para doenças crónicas podiam viver mais e melhor se mantivessem um estilo de vida saudável. A genética não é uma sentença. A forma como vivemos pode modular os riscos e abrir novas possibilidades. Esta ideia dá poder… mas também responsabiliza as políticas públicas pela criação de ambientes que tornem isso possível. 

Em Taiwan, outro estudo revelou que cumprir cinco hábitos básicos — não fumar, consumir frutas e legumes diariamente, manter um peso corporal adequado, praticar atividade física com regularidade e limitar o consumo de álcool — aumentava a esperança de vida em mais de sete anos e reduzia significativamente os custos com cuidados de saúde. Prevenir não salva apenas vidas: também reduz custos. A saúde compensa, literalmente. 

Do curativo ao preventivo: uma revolução pendente 

Continuamos a investir mais em reparar do que em prevenir. Como se a saúde fosse uma sala de urgências e não uma travessia. 

Pensar em longevidade não pode ser apenas pensar em anos. É preciso pensar em saúde. E não numa saúde entendida como ausência de doença, mas como capacidade de participar na vida. De continuar a mover-se, aprender, decidir, amar. 

Mas isso exige mudar de perspetiva. Durante demasiado tempo, o sistema de saúde tem sido reativo. Espera que o dano apareça para intervir. A revolução da longevidade exige um outro paradigma: prevenção proativa, deteção precoce, acompanhamento contínuo. 

A medicina do futuro começa no presente mais próximo: no quotidiano. 

A saúde não se constrói sozinha 

Isto implica reconhecer que a saúde é uma responsabilidade partilhada. Do indivíduo, sim. Mas também do ambiente, da comunidade e das instituições. Não faz sentido recomendar atividade física se os passeios não são transitáveis. Não adianta falar de alimentação saudável se os alimentos frescos são inacessíveis. 

A saúde não se constrói sozinha: constrói-se em rede. 

E essa rede tem de ser intergeracional. Porque os benefícios de um envelhecimento saudável não são apenas para quem já atingiu idades avançadas. São para toda a sociedade. Uma pessoa com 80 anos e com boa saúde é mais autónoma, menos dependente, mais capaz de continuar a contribuir com experiência, tempo, cuidado. 

É um ativo social, uma referência familiar, um motor comunitário. 

Uma tarefa de todos, para todas as idades 

Preparar-se para envelhecer bem não pode ser uma tarefa individual. Deve ser uma política pública — e um pacto social. Devemos ensinar, desde cedo, que cuidar de si não é um luxo, nem uma moda, nem um peso moral: é uma forma de dignificar a vida. E de levar essa dignidade o mais longe possível no tempo. 

Porque viver mais não basta. O que verdadeiramente transforma é viver melhor. E isso começa hoje. A cada passo, a cada refeição, a cada vínculo. 

Esse futuro constrói-se em conjunto. E começa hoje, com decisões que somam saúde a cada vida. 

 

E se cuidar hoje da nossa saúde fosse a forma mais sábia de escrever o futuro?