Concurso fotográfico
“De banca em banca” – Senhora da fruta
“De banca em banca” – A Senhora da Fruta
Todas as manhãs, bem antes de o sol aquecer o empedrado da praça, ela já está lá. De mãos calejadas e avental atado à cintura, arruma as maçãs com um cuidado que parece quase um gesto de ternura. A banca é pequena, mas cheia de cor — vermelhos, verdes, laranjas, tudo misturado com o cheiro fresco da terra ainda agarrada aos legumes.
É a Dona Maria, como toda a gente a chama. Há mais de trinta anos que ocupa o mesmo canto do mercado. Conhece cada freguês pelo nome, e já sabe — sem que lhe digam — se o senhor António quer os tomates bem maduros ou se a Dona Lurdes prefere laranjas sumarentas. Pelos dedos passa não só o peso da fruta, mas também o peso do tempo — o das estações, das colheitas, das conversas a meio da manhã.
O rosto, marcado pelo sol e pelos anos de trabalho, não pede retrato, mas aceita-o com um sorriso meio envergonhado. “Isto é um ofício antigo”, diz, enquanto endireita uma caixa de pêssegos. “Mas ainda gosto disto.”
A banca não é apenas sustento — é encontro, é hábito, é memória.

