03/05/2018

É a ciência o nosso Santo Graal?

¿Es la ciencia nuestro Santo Grial? - Sociedad, Investigación

Os humanos sempre foram tentados pela vontade de viver para sempre. Culturas em todo o mundo têm mitos sobre a conquista da imortalidade. Gerações de chineses falam de um mortal chamado Chang'e bebendo o elixir da vida e tornando-se um deus na lua, enquanto os antigos gregos deixaram poemas sobre Tithonus implorando a Zeus para ter imunidade da morte.

Uma das primeiras obras da literatura, o poema de Gilgamesh, concentra-se na busca de um herói para a imortalidade. Em algumas tradições, a imortalidade era concedida pelos próprios deuses. De acordo com os antigos, os segredos da imortalidade podem ser encontrados dentro da Terra, na Lua ou até mesmo no teu jardim...

As quimeras da imortalidade

A fonte da juventude

Em várias culturas e mitologias, há sempre a história de águas milagrosas com o poder de rejuvenescer ou conceder imortalidade para aqueles que têm a oportunidade de beber ou banhar-se nesses mares e rios. Uma das histórias mais conhecidas a esse respeito é a do explorador espanhol Ponce de León, que supostamente procurou essa fonte de juventude nas suas viagens pela América na época do Renascimento. Não há documentos oficiais sobre a expedição desse explorador, muito menos provas de que encontrasse algo semelhante a um rejuvenescedor natural feito de águas cristalinas.

Amrita, Ambrosia, Soma e Néctar

Há muitas referências a Amrita e Soma em textos hindus, zoroastrianos e indo-europeus. Ambrosia, o alimento da imortalidade dos deuses gregos, é análogo a Amrita. Cientistas, historiadores e xamãs especularam sobre a identidade da planta de Amrita. Devido às experiências espirituais associadas ao consumo de Soma considera-se que produzem um estado alterado de consciência.

Metais e Minerais

A ideia de ingerir metais líquidos para a longevidade está presente nas tradições alquímicas da China à Mesopotâmia e à Europa. A lógica dos antigos sugeria que consumir algo impregnava o corpo com as qualidades do que era consumido. Como os metais são fortes e aparentemente permanentes e indestrutíveis, era racional que aqueles que comiam metal se tornassem permanentes e indestrutíveis. O mercúrio fascinou os antigos alquimistas. Diz-se que vários consumiram "ouro líquido" ou "gotas brancas" para alcançar a imortalidade. Histórias como essa obcecaram alquimistas antigos e medievais que procuraram suspender o ouro num estado líquido bebível ou fundir ouro e mercúrio.

A pedra filosofal e o elixir da vida

O objetivo principal de todos os alquimistas medievais foi a criação da Pedra Filosofal. Os esforços para descobrir a Pedra foram chamados de Magnum Opus, ou Grande Obra. Diz-se que a Pedra Filosofal converte metais básicos, como chumbo, em metais preciosos, como ouro e prata. Também produz imortalidade. Em algumas lendas, a posse da Pedra, por si só, concedia uma vida sem fim. Em outros, a Pedra era usada para sintetizar o Elixir da Vida. A Pedra Filosofal simboliza perfeição, iluminação e bem-aventurança.

O Santo Graal

Uma das mais controversas peças da mitologia cristã e rodeada de mistérios, o Santo Graal é considerado por muitos como a taça que Jesus usou na Última Ceia, tornando-se uma das relíquias mais procuradas em todo o mundo. Acredita-se também que o Santo Graal foi usado por José de Arimatéia para reunir o sangue de Cristo enquanto este estava na cruz. É, no entanto, na lenda arturiana que o Cálice Sagrado assume uma representação da imortalidade através de Galahad. Os Cavaleiros da Távola Redonda tinham a missão de encontrar o Santo Graal, e Galahad, pela sua pureza e piedade, é considerado o único que realmente alcança a taça mitológica. Sir Galahad é levado aos céus ao encontrar o Cálice Sagrado, e a lenda conta que conquistou a imortalidade pelo seu ato.

De volta ao século XXI

Lendas à parte, parece que agora mais do que nunca há uma tendência real em torno da questão da longevidade, ou mesmo da imortalidade. Há bilionários nos Estados Unidos gastando bilhões de dólares em como mudar a nossa biologia para viver mais e alguns para sempre.

Mas vamos em partes, é possível viver para sempre? O potencial para viver mais é uma coisa, mas e quanto ao potencial de viver para sempre? De ser imortal? É importante notar que estas investigações não visam erradicar o tipo de mortes que consideramos trágicas, ou tipos de doenças crueis que encurta a vida de uma criança, ou uma doença controlável, como a malária, que afeta desproporcionalmente partes da população humana.  O objetivo da investigação da longevidade é aumentar drasticamente a vida humana.

Os mistérios que rodeiam como e porque envelhecemos não estão totalmente claros. Alguns especialistas acreditam que o processo de envelhecimento biológico é causado pela ativação e desativação de certos genes, outros que são as mutações genéticas que ocorrem e se acumulam com o aumento da idade, causando deterioração celular e molecular.

Em qualquer caso, os esforços para retardar o envelhecimento estão na mira de muitos cientistas, como os espanhóis Juan Carlos Izpisua ou María Blasco Marhuenda, que concentram as suas pesquisas em encontrar as respostas que nos digam porque envelhecemos e como, com isso, podemos curar doenças relacionadas ao envelhecimento ou o renomado gerontólogo Aubrey de Grey e a sua Fundação SENS, que nos deixou frases como "pensar que podemos viver 1000 anos é um número conservador".

A questão colocada então é: será a ciência o nosso Santo Graal?