Concurso fotográfico

Iracema com a neta

2025 © Jorge Bacelar

Entre a penumbra suave da casa antiga de Arouca, a bisavó Iracema segura com ternura a sua bisneta Olivia ao colo, como quem protege um tesouro frágil e precioso. Aos 88 anos, as mãos marcadas pelo tempo revelam décadas de trabalho, de cuidados e de histórias partilhadas, mas continuam firmes e delicadas quando envolvem o pequeno corpo que confia plenamente naquele abraço.

Iracema é daquelas mulheres que parecem feitas da mesma matéria que as montanhas de Arouca: resistente, discreta e profundamente enraizada na terra e na família. Cresceu a ver passar gerações, enfrentou invernos rigorosos e verões de trabalho nos campos, e aprendeu desde cedo que a verdadeira riqueza está nas pessoas que amamos e na memória que deixamos nelas. Agora, ao olhar a bisneta, reconhece nos olhos curiosos uma continuidade do seu próprio percurso.

Na presença da menina, a bisavó reencontra uma juventude serena: volta a cantar canções antigas, a recordar histórias de quando Arouca era mais rural e silenciosa, a falar de romarias, de cheias no rio e de colheitas abundantes. A bisneta, ainda sem compreender todas as palavras, sente no tom da voz e no calor dos gestos que ali existe um porto seguro, um lugar de amor incondicional. Entre elas nasce um diálogo silencioso, feito de carícias, sorrisos tímidos e pequenos dedos entrelaçados em mãos enrugadas.

Esta fotografia, com o fundo escuro a destacar a luz suave sobre as duas, parece congelar um segredo: o encontro entre a experiência e o começo de tudo. A bisavó Iracema oferece à bisneta muito mais do que colo; oferece raízes, pertença e a certeza de que, em Arouca, haverá sempre uma porta aberta e um abraço à espera. E a criança, mesmo tão pequena, já começa a escrever, sem saber, o próximo capítulo da história desta família.

Jorge Bacelar

Arouca
Portugal